domingo, 28 de junho de 2009

A tez do ídolo.


Polemizando a polêmica.

Sobre a branquice de “Maicol”, o rei do pop morto recentemente, não ficou claro se ele desbotou sem querer, por vitiligo, como divulgado, ou propositalmente, como afirmam alguns.

Mesmo em toda sua carreira fazendo uma música predominantemente e reconhecidamente negra, nunca deixou de ser tratado como um traidor, alguém que negou sua cor e origem étnica.

Lembro que há algumas décadas atrás, a mulher negra que alisasse o cabelo era malvista por outros negros mais conservadores e principalmente por militantes da “causa negra”. Todas as outras mulheres – brancas, ruivas, etc – tinham a liberdade de pintar, descolorir, alisar o cabelo, e a negra não. A negra que alisava o cabelo era como uma “Pelé”, o negro branco, como o “rei” sempre foi tratado. E aí, ser negra era motivo de orgulho ou acabava virando um estorvo, um peso? Outras mulheres podiam fazer o que quisessem com o cabelo sem culpa, a negra tinha que dar satisfação aos moralistas.

Hoje parece que a coisa deu uma relaxada – ainda bem.

Quanto à questão da cor da pele, se um branco quiser mudar de cor, talvez as línguas maldosas vão dizer que “saiu do armário”, enviadou, etc, mas não vão dizer que está renegando sua “raça”. Teriam mais autonomia para fazer o que quisessem com seu corpo.

O negro está mais exposto à patrulha ideológica, principalmente se sua mudança tender para o branco, aí a casa cai.

Digamos que é um processo parecido com o “embalsamento” que sofrem os indígenas. Índio tem que andar pelado, pintado, de arco e flexa na mão, senão não é indio, é um desculturado, alienado, desenraizado, etc. O descendente de povos autóctones não pode escolher o que fazer de sua vida, o que comer e vestir e ainda se dizer índio, por que índio é aquele que dança em volta da fogueira batendo na boca fazendo uuuuuuu!, e não aquele que tem um som descolado, quer uma caranga, ir ao shoping, etc.

Repetindo, não ficou claro que o astro pop se descoloriu propositadamente – no meu entender, claro – e mesmo que ele assumisse publicamente que o fez de propósito, por que achava mais bonito, não teria nenhum problema, cada um é domo de seu próprio escalpo.

Mas tratando de suas pretensões, ou ele não assumiu por que de fato não houve intenção, ou mesmo tendo uma vida regada de polêmicas, a barreira do preconceito de cor seria tão grande e tão intenso que nem uma figura controversa teria coragem de assumir publicamente uma coisa dessas. O simples tom de uma cútis parece ser motivo de guerra.

Talvez daqui algumas décadas isso se torne uma coisa tão pequena, tão provinciana. Com a engenharia genética e novas drogas, novos recursos, as pessoas poderão escolher ter o corpo que quiser, com a cor e o sexo que lhes parecerem mais interessante, ou até mesmo seu corpo natural. Quem sabe, no futuro, as pessoas ao olharem o noticiário de hoje repararão e comentarão como somos conservadores.

É assim que nós, os atrasados de hoje nos odiamos, e fazemos pouco das paixões que moviam os ódios de tempos remotos. Quais serão os motivos, por o quê os modernos de tempos vindouros seus ódios se inflamarão?

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