domingo, 21 de junho de 2009

Peres & Troika


Esta semana foi um pouco atribulada. Tive que levar minhas duas criaturas de alta estima ao veterinário. Tenho duas pulgas de raça que não posso bobear. São siberianas legítimas, com pedigree e tudo.

O veterinário logo me alertou que era problema de álcool. “Álcool?!”perguntei abismado. “Mas elas não bebem.” “Elas não”, disse ele, “mas se o senhor não tomar uma atitude, logo logo poderá evoluir para uma cirrose”, alertou.

“Quem, eu?!”perguntei assustado. “Não, as pulgas”, respondeu.

Disse a ele que só tomava uma cervejinha aos finais de semana, o que de pronto ele me cortou: “É o que todo mundo diz.” Disse-me que a raça siberiana é muito sensível e que se não mudasse meus hábitos iria ter um caso duplo de cirrose na família. Saí de lá profundamente abalado.

Peres & Troika são duas pulgas não só de raça. São de raça, de estimação e treinadas. As visitas s'encantam ao vê-las sapateando com sincronia invejável.

Ambas são de hábitos refinados devido a sua origem austríaca. Sei que pode parecer meio confuso esse negócio de origem germânica e raça eslava, mas o mundo é complicado mesmo. Fizeram viagem de primeira classe, com todos os papéis, certificado de origem e tal, tudo bonitinho, sem trambique nem tramóia.

Comparo minhas duas criaturas à Maria Leopoldina, mulher da alta corte austríaca, de hábitos e educação fina. Uma mulher requintada. A diferença é que a arquiduquesa compreendendo o interesse entre Portugal e Áustria, aceitou um casamento por procuração com D. Pedro I, o príncipe, filho do rei português. A donzela, conforme combinado, viria ao Brasil desposar seu pretendente e em no máximo 2 anos seguiria para Portugal. Passou o resto e sua vida por aqui como primeira imperatriz do Brasil.

As duas gostam muito de música erudita. Peres conserva seu lado habsburguense, conservador, aristocrático, à flor da pele. S'embevece com Haendel, mas gosta muito de Mozart e Beethoven.
Troika, sem trocadilho, digo que puxou meu sangue. Gosta de coisas nacionais, principalmente Villa Lobos. As Bachianas, conhece todas. Mas quando eu ponho a nº 4, ela simplesmente s'entrega ao canto de sereia da soprano e fica flanando como que adormecida, em transe, sorvendo cada trecho, cada acorde.

Pra ter uma idéia de como são sensíveis – como muito bem alertou o veterinário – outro dia alguém da vizinhança começou a tocar uma música esquisita no último volume. Era um tal de “Só as cachorras,... as preparadas”, e por aí ia, seguido de um “tum tum tum ” infernal. Não deu outra, Peres e Troika começaram a sentir o estômago embrulhar, dor de cabeça, um mal estar geral. Tive que ir lá pedir pra abaixar o som, o que eles não gostaram, mas depois de muito bate boca, acabaram cedendo.

S'eu fosse ministro diria que elas também são gente.

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