segunda-feira, 22 de junho de 2009

Os arquivos do regime militar começam a “falar”.

Os jornais paulistas, Folha de São Paulo (Caderno MAIS) e O Estado de São Paulo, trataram de assuntos referentes ao período do regime militar (1964-1985). A Folha tratou do sempre polêmico caso do cantor Wilson Simonal, acusado de ser dedo-duro, acusação que lhe valeu a carreira, o ostracismo, que o teria causado depressão e desgosto, uma das causas de sua morte precoce.

O Estadão de domingo trouxe como manchete: “Curió abre arquivo e revela que Exército executou 41 no Araguaia”, e a matéria em que o “Major Curió, o mais conhecido oficial remanescente do regime militar(1964-85) abriu ao Estado o seu lendário arquivo sobre a Guerrilha do Araguaia(1972-75). Os documentos, guardados numa mala de couro há 34 anos, confirmam e detalham a execução de inimigos da ditadura nas bases das Forças Armadas na Amazônia.” Segundo depoimento do militar Sebastião Curió, dos envolvidos, mais de 200, 67 teriam sido mortos no conflito, destes, “41 foram presos e executados quando já não ofereciam risco às tropas”, ou seja, foram executados. Este novo relato vai de encontro à versão oficial militar que afirma que teriam sido mortos com armas em punho.

Sobre Simonal, tratado pela Folha, pelos arquivos que começam a “falar” parece ficar cada vez mais difícil sustentar a tese de “injustiçado” que o cantor sempre se intitulou. Ele, que sempre pareceu um alienado, alguém á margem de discussões e envolvimento político, aparece como um direitista e colaboracionista. A matéria deixa claro sua participação como informante da repressão, com reconhecimento de militares responsáveis pela “limpeza” ideológica.

Os arquivos que começam a ser entregues à pesquisa acadêmica e jornalística para que a sociedade possa conhecer o que aconteceu e o envolvimento de cada pessoa, artista, empresário e instituição, promete criar algumas saias justas, como é o caso da anistia aos militares e torturadores. O caldo deve engrossar.

Outra coisa é o próprio envolvimento da Folha como colaboracionista do regime. Num editorial no começo deste ano, o jornal teria chamado o período da ditadura de “ditabranda”, que foi o nome do texto, o que acabou gerando protesto em frente ao jornal com acusações de como a empresa cedia seus veículos para agentes dos milicos, como o fato de a Folha não sofrer censura em suas matérias como era comum n'O Estado. A revista Caros Amigos repercutindo o protesto publicou relato de uma jornalista funcionária da Folha que teria sido presa e torturada, e que a empresa nem tomou conhecimento, deixou-a à sua própria sorte.

Pelo jeito muita coisa ainda estas pastas têm pra contar. A hora que a luz clara se acender, algum anjo pode deixar aparecer seu par de chifres e sua calda pontiaguda.

É o prelúdio de nos conhecermos. É esperar pra ver.


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