terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Ele voltou.

Na segunda metade da década de vinte, um grupo de italianos teriam atravessado o Atlântico num hidroavião de nome "Santa Maria", e pousado na represa do Guarapiranga, em Santo Amaro, que à época era município independente de São Paulo, sendo reincorporado à capital, na década de trinta..

Logo depois, um grupo de brasileiros teríam repetido o tento, no hidroavião "Jahú" em homenagem à cidade natal de seu aviador, também pousou nas águas da represa que a Light & Power Co. criara na primeira década do século. Os dois vôos aconteceram em 1927.

Os aviadores brasileiros chegaram a ser recebidos no Palácio do Catete no Rio, pelo então presidente Washington Luis.

Para celebrar o fato, Mussolini, o mandatário italiano, teria mandado uma coluna de uma construção milenar romana. Italianos aqui residentes teríam contribuido com a estátua de Ícaro e outros badulaques que complementaríam o monumento de 9 metros.

Como símbolos fascistas fazem parte da obra, sempre houve certa discussão se é uma suposta homenagem ou pretexto para propaganda fascista. Na década de oitenta, o prefeito Jânio Quadros a removeu para uma região mais central, até porque estava praticamente abandonada em seu local original, mas descaracterizou a estátua situada fora de lugar, de contexto etc.

Agora em dezembro, o monumento voltou restaurado às margens da represa do Guarapiranga, inaugurado pelo prefeito Kassab e seus puxas. Não está no seu lugar original mas está muito bem localizada e em seu contexto, que é homenagear os aviadores que atravessaram o oceano e pousaram ali, na represa.

Particularmente, gostei de ver a estátua de volta à região. Quando eu era moleque, ficava intrigado com aquela estátua de um cara de asas lá em cima. Não sabia o que significava, mas me prendia a atenção pela sua imponência. Mais tarde iria descobrir que isso é um traço comum das obras nazi-fascistas.

O fato de ter símbolos fascistas não é motivo para querer depredar a obra como faz parte de sua história, ou criticá-la, como ainda o fazem. Não tenho nenhuma simpatia por nenhum regime ou sistema de governo autoritário, centralizador, etc, mas nem por isso vou defender que se estrague uma parte da história da humanidade.

Auschwitz, por tudo o que representou, não foi derrubado. Pelo contrário, é preservado até hoje, e não por simpatia ou afinidade, mas porque faz parte da história e é um bom motivo para se conversar a respeito com os mais novos, mostrar o que aconteceu, discutir valores etc.

Da mesma maneira, fazendas em que foram empregadas mão de obra escrava, outra chaga da humanidade, é positivo que tenham sido preservadas com todo seu instrumental. Visitá-las é um bom programa. Ficar diante de artefatos em que se prendiam e torturavam seres humanos - que não eram necessariamente assim considerados - nos faz pensar, tanto quanto um livro, um documentário...

Tudo isso faz parte da saga do ser humano em seu planeta. Não se limpa o passado destruindo partes de sua história. Destruir não é nenhuma demonstração de sabedoria, de pensamento crítico ou de superior discordância, é apenas demonstração de imaturidade, compreensão curta das coisas.

Limpemos e cuidemos do presente, que direta ou indiretamente, temos nossa parcela de culpa e cumplicidade com suas mazelas. Isso sim, seria uma atitude consciente e coerente.