Chávez deu a versão original em espanhol:
"Las Venas Abiertas de América Latina".
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, não perdeu tempo em dar de presente ao mandatário americano, Barack Obama, o livro “As Veias Abertas da América Latina”, do jornalista uruguaio, Eduardo Galeano.
Se Chávez demonstrou amizade no gesto, não deixou de alfinetar, fazer sua provocaçãozinha, como é de costume. O livro expõe a imposição imperialista, interesseira e exploradora, como política externa americana em relação a América Latina , o que teria contribuido para seu empobrecimento, ou seja, é uma obra anti americana, que quem já leu, sabe que em certos trechos, os nervos ficam à flôr da pele. Por isso tornou-se uma referência, principalmente entre os mais à asquerda.
Segue alguns nacos:
“Há dois lados na divisão internacional do trabalho: um em que alguns países especializam-se em ganhar, e outro em que se especializaram em perder. Nossa comarca no mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce: especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os europeus do Renascimento se balançaram pelo mar e fincaram os dentes em sua garganta.(...)Mas a região continua trabalhando como um serviçal. Continua existindo a serviço de necessidades alheias, como fonte e reserva de petróleo e ferro, cobre e carne, frutas e café, matérias-primas e alimentos, destinados aos países ricos que ganham, consumindo-os, muito mais do que a América Latina ganha produzindo-os. São muito mais altos os impostos que cobram os compradores do que os preços que recebem os vendedores; e no final das contas, como declarou em julho de 1968 Covey T. Oliver, coordenador da Aliança para o Progresso, 'falar de preços justos, atualmente, é um conceito medieval. Estamos em plena época da livre comercialização...' Quanto mais liberdade se outorga aos negócios, mais cárceres se torna necessário construir para aqueles que sofrem com os negócios. (...) 'Ouve-se falar de concessões feitas pela América Latina ao capital estrangeiro, mas não de concessões feitas pelos Estados Unidos ao capital de outros países...É que nós não fazemos concessões', advertia, lá por 1913, o presidente norte-americano Woodrow Wilson. Ele estava certo: ' Um país – dizia – é possuído e dominado pelo capital que nele se tenha investido.' E tinha razão. Na caminhada, até perdemos o direito de chamarmo-nos americanos, ainda que os haitianos e os cubanos já aparecessem na História como povos novos, um século antes de os peregrinos do Mayflower se estabelecerem nas costas de Plymouth. Agora, a América é, para o mundo, nada mais do que os Estados Unidos: nós habitamos, no máximo, numa sub-América, numa América de segunda classe, de nebulosa identificação.”
“É a América Latina, a região das veias abertas. Desde o descobrimento até nossos dias, tudo se transformou em capital europeu ou, mais tarde, norte-americano, e como tal tem-se acumulado até hoje nos distantes centros de poder.”
“Nossa derrota esteve sempre implícita na vitória alheia, nossa riqueza gerou sempre a nossa pobreza para alimentar a prosperidade dos outros: os impérios e seus agentes nativos. Na alquimia colonial e neo-colonial, o ouro se transforma em sucata e os alimentos se convertem em veneno. (...) O bem-estar de nossas classes dominantes – dominantes para dentro, dominadas de fora – é a maldição de nossas multidões, condenadas a uma vida de bestas de carga.(...) O desenvolvimento desenvolve a desigualdade.”
“Nossas classes dominantes não têm o menor interesse em averiguar se o patriotismo poderia ser mais rentável do que a traição ou se a mendicância é a única forma possível de política internacional.”
A política internacional, a relação dos países latinamericanos tanto com os EUA, quanto com a Europa, já não se faz mais nos mesmos patamares de 70, quando se escreveu este texto, as coisas mudaram. Mas até a década de 80, os EUA tinham uma postura impositiva de ingerência nas decisões políticas e econômicas dos países e o “resto” do continente, uma atitude subserviente, com exceção dos insurgentes revolucionários, Cuba, Nicarágua, El Salvador, etc, que viam na insurreição armada a única alternativa à condição de ficar sob a sola americana. Todos sofreram intervesões diretas – armadas – ou indiretas – através da CIA – sendo Cuba a única sobrevivente às custas de um país fechado pela iminência de outra invasão como a malograda “Baia dos Porcos”, patrocinada por Tio Sam.
Hoje há uma relação muito mais soberana entre as partes envolvidas, não só com Obama. Com Bush, com Clinton, já se pegava mais leve. A criação da Unasul, uma alternativa a ALCA, ou a própria rejeição à ALCA, a não submissão às vontades americanas, a postura contra o bloqueio a Cuba, mostra que as relações de influência e poder no continente são outras.
Voltando a Chávez, dar uma obra que deprecia seu presenteado é uma atitude de suspeita generosidade. Coisa de Chávez. Se o mandatário venezuelano quer ser referência continental, o é como um chato de galocha. Lula, Cristina Kishner, presidenta argentina, o evitam. Querer tratar de assuntos delicanos nos termos “eu exijo...!”, é tudo o que precisa para não haver diálogo.
Com sua maneira de ser, Chávez está mais pra bobo da corte, que pra liderança.
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