O excesso de conforto desmobiliza. Ganhar mundos e fundos por sí só não é suficiente pra nos realizar profissionalmente, nem é garantia de felicidade, ao contrario do que pensa a maioria. Alcançar o topo é estimulante e motivo de grande felicidade, num primeiro momento, porém, por outro lado, pode significar o fim da disputa, pôr a existência numa prateleira e entregar-se ao tédio. Precisamos sempre ter alguma coisa que nos motive, que nos provoque, incentive, caso contrário, será melhor a vida de escravo que a de rei.
Muita gente não entende a situação do jogador Adriano, pela sua desmotivação. Como alguém, ganhando o que ele ganha, fazendo o que faz, ainda tendo fama, sendo ídolo no velho continente, sonho de todo jogador – inclusive dele mesmo – como pode se dar ao luxo de desdenhar tudo como um moleque mimado?
Nesse tipo de crítica, há uma certa visão como se as pessoas fossem gado. Se tem água, ração e teto, então, não tem do que reclamar. A partir daí se malha o cara como se fosse um Judas.
“Você tem fome de quê? Você tem sede de quê?”
Adriano pode estar podre de rico, podendo comer o que quiser, comer quem quiser, mas tudo isso tem sido um porre pra ele. O treino, a rotina no clube italiano tem sido tão entediante quanto um escritório. Perdeu o gosto, não tem sabor, é puro tédio. Acabou indo “matar a fome” na comunidade, numa favela do Rio. Alí pra ele, tem cor, tem sabor, tem tesão.
“Não quero nem receber salário da Inter, enquanto estiver parado. Assumo se for multado e o que vier a acontecer comigo.” Enquanto o mundo se acotovela por dinheiro, uma posição melhor na empresa, e tantos outros quereres tão valiosos, o “Imperador” almeja apenas “ficar ao lado de minha família, dos meus amigos, ir à minha comunidade descalço e ser feliz.”
O mundo do contrato, da responsabilidade, do compromisso se tornou um peso, um fardo demasiado oneroso. Tudo o que ele quer é sossego, um tempo ocioso sem compromisso, sem meta a cumprir, nenhum superior ou diretoria a dar satisfação.
Um tempo que ele passe onde quer, ao lado de quem quiser, pessoas sem dinheiro, de roupa simples, barata, sem etiqueta nem estatus, com linguagem descalça, chula, provavelmente será mais significativo pro atleta que os puteiros chiques da Europa, as festinhas em seu iate com pessoas que só se vê em revistas, os spa's, etc.
Deixa ele.
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