sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Cuba dá sinais de que as coisas estão esquentando

Vi na tv noticiário sobre movimentação de tropas e treinamento militar em Cuba. Segundo a emissora, o exercício, seria contra uma possível invasão americana.


Se fosse levar em conta o motivo alegado, não teria nada mais patético que Cuba se preparar para enfrentar “no muque” os Estados Unidos no momento em que o país começou a rever o bloqueio, assinalou com diálogo, permitiu que visitantes (americanos) gastassem mais na ilha, entre outras medidas que põem a guerra fria naquele espaço geográfico em degelo. Nunca houve um presidente americano, desde a tomada do poder por Fidel, tão próximo do diálogo e da negociação, e tão distante de uma invasão.

Nas minhas contas não se trata disso.

A ilha tem passado economicamente por maus bocados, e a fome vem crescendo, há um desabastecimento crescente e conforme relatos, em caso de internação, a família precisa levar desde material para sutura, até roupa de cama, alimentação, remédios, etc. A lista de produtos fornecidos pelo governo é cada vez menor, inversamente proporcional à lista de produtos adquiridos no mercado negro a preços (bem) maiores.

O governo não vê solução, a não ser acusar os desgostosos de inimigos da pátria, prendê-los e impor penas e sanções. Ou seja, a revolução está desmanchando, e por isso não teria cabimento nenhum gastos militares para enfrentar inimigo externo. O ensaio é para intimidar inimigo INTERNO. É uma maneira de intimidar a população da própria ilha.

A dinastia castrista deve estar sentindo cheiro de coisa queimada. O descontentamento é muito grande, a pressão se eleva e um fato de repercussão, como uma prisão, uma morte, algo emblemático pode funcionar como pavio acesso e inflamar a população. Uma vez começado um onda de protesto, vai ser dificil contê-la. A coisa não está pior por que tem olheiros (soldados à paisana) por todo lado, e a população tem medo de ser presa.

Se a maionese começar a desandar, os irmãos Fidel, Raul e Chávez da Venezuela, afinarão o discurso dizendo que é obra do “imperialismo ianque”. Não aceitarão críticas indicando que o problema é de má administração, estreitismo político, bancado por um saudosismo ideológico anacrônico.

Raul Castro perdeu o bonde ao parar as medidas que oxigenavam o sistema. Se tivesse sido um pouco mais ousado e menos carrancudo, apelando para o modelo chinês que muitos analistas na época viram como alternativa, hoje talvez estivesse menos encurralado. Agora parece sofrer de falta de visão causado por pressão crescente, falta de alternativa – dentro de seu modo estreito de pensar – e por se permitir apenas mudanças estreitas e inócuas como somente aquelas que preservam a revolução.

Raul deveria fazer como seu irmão, vestir o pijama e pedir licença. Deixar a população escolher seu futuro governante com suas propostas. Se em cinquenta anos de doutrinação a população não s'encantou com os valores da revolução, não será agora que o farão. Quando botaram o ditador Fulgêncio Batista pra correr, não se elogiou tanto o povo pela sua sabedoria e seu heroismo? Então, entregue o poder nas mãos desse povo. Não se trata de ser contra ou a favor do socialismo cubano, trata-se de reconhecer que a fruta apodreceu e está cai não cai.

Corre o risco de não se comemorar o 51º ano da revolução.

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