domingo, 6 de setembro de 2009

O brado retumbante de 1822.

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Vem chegando o feriadão de 7 de setembro, e é comum nesses dias aparecerem revistas, jornais, e até mesmo programas de rádio perguntando quantos erros tem o famoso quadro “Independência ou Morte” de Pedro Américo, que todo mundo já viu pelo menos n'algum livro de história em seu tempo de escola , também conhecido como “Grito do Ipiranga”.

Primeira coisa: a intenção da obra não era ser uma “foto” fiel aos fatos e detalhes, mas exaltar um fato épico: a independência do Brasil.

Segunda coisa: Tanto quem encomendou a obra – sim, não foi iniciativa própria, mas uma encomenda – quanto quem a pintou não eram historiadores nem era essa a pretensão. A intensão era prestar homenagem à grandeza do ato histórico da “proclamação” e não se ater a “coisas menores”, se tinha muita ou pouca gente, se a moita estava assim ou assado, etc.

Vamos aos fatos

A corte portuguesa havia se mudado(fugido) para o Brasil em decorrência da invasão de Napoleão à Portugual. Isso foi em 1808, e em 1815 Napoleão caiu e, capitaneado pela Áustria, o Congresso de Viena impôs que todas as mudanças impostas pelo corso(Napoleão) fossem desfeitas, ou seja, as monarquias absolutistas seriam reconduzidas aos seus tronos.

Dom João VI se utilizou do “jeitinho brasileiro”elevando o Brasil a condição de Reino Unido de Portugal e Algarves, porque assim ele não precisaria se mudar. Em 1820, estoura em Portugal uma revolta exigindo o retorno do rei. O rei é de Portugal ou é do Brasil? Tem algum rei que mora em uma de suas colônias? Por que o rei de Portugal não vive em Portugal, como todos os outros monarcas, raios?

Contrariado, Dom João VI levanta âncora e volta á sua terra no além mar, deixando para tomar conta da colônia seu filho na condição de regente, o príncipe Dom Pedro I.

Ao chegar em Portugal, Dom João cede às pressões portuguesas que exigiam que o Brasil voltasse a condição de mero quintal produtor e exportador à serviço da metrópole. Dentre as exigência, estava o retorno de Dom Pedro à Europa, o que ele (Pedro)não queria em hipótese alguma, até por que via em sua ausência, não só o fim da monarquia, como o esfacelamento do território em vários países republicanos.

A pressão foi aumentando, a coisa foi esquentando, e em lá pelo meio de 1822, o relacionamento entre a corte portuguesa e o Brasil havia se degringolado. A qualquer hora era esperado que a frota (frota é um conjunto de navios de guerra) portuguesa iria chegar e bombardear tudo, pegar Dom Pedro pelas orelhas e fazer cumprir os desígnios da coroa.

Nos primeiros dias de setembro, o príncipe “defensor perpétuo do Brasil” como havia sido declarado, vai ele mesmo vistoriar a costa (o litoral) certificar se a fortificação do porto estava pronta para o sauceiro.

Dom Pedro estava em trajes informais, e nessas de vistoriar o litoral, aproveitou para dar uma esticadinha sem compromisso à casa de sua amante, a futura “marquesa de Santos”. Pelo fato dessa “passadinha” por alí, o príncipe não era acompanhado por grande contingente de tropas, muito pelo contrário, acompanhava-o apenas sua guarda pessoal e seu amigo de farras noturnas, o Chalaça, apontado como responsável por arrumar amantes para sí e para o príncipe.

Saindo dalí em caminho ao planalto paulista, como era um terreno íngreme, o melhor transporte era em lombo de algum muar, jegue, burro, etc. Assim foi.

Quando Dom Pedro chega às margens plácidas do Ipiranga, é acometido de um insurreição intestinal, e essa parada, é a responsável pelos mensageiros os terem alcançados alí. Lendo a carta enviada por seu ministro e conselheiro, José Bonifácio, e de sua esposa e regente, D. Maria Leopoldina, que expressaram que urgia tomar providências, Dom Pedro teria então “p” da vida, “proclamado” a tal da independência em relação à corte portuguesa.

Voltando ao quadro

Será que alguém iria pintar ou mandar pintar um quadro de um momento épico como a independência do pais, com seu principal protagonista em trajes sumários, acompanhado de meia-dúzia de soldados igualmente trajados, montados em burros, acompanhado de um devasso e de tez pálida devido a incontinência intestinal?

Outra coisa: sabe quem encomendou a obra? Ninguém menos que Dom Pedro II, imperador do Brasil, um homem patriota acima de tudo e filho do protagonista que está no centro do quadro, de “espada”(florete) em punho dando o “grito”. Uma curiosidade: aquelas fardas alvas dos soldados não existia, foi invenção de Pedro Américo, ou uma adaptação de uma outra aquarela, ou seja, ele pintou se baseando em outra pintura.

Se um monarca, encomendasse uma obra em que fosse retratado o momento ímpar do surgimento da nação e que esse fato grandioso tivesse sido feito por ninguém menos que seu pai, como será que deveria sair essa ilustração? Fiel e chinfrim, ou em trajes de gala, montados em cavalos puro-sangue com sua guarda de honra vestida a carater como o momento exige, e populares em volta também nos “trinques”?

Apesar de carregada de um nacionalismo romântico, é uma obra expressiva, monumental.

Então voltando ao quadro. Quantos erros pode-se apontar, ou invertendo a pergunta: há alguma coisa alí retratada próxima do real, do ocorrido?

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