quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Violência I

Ainda falando sobre criança e violência, é curioso notar que o ser humano, um ser dotado de razão – ao menos em tese extensivo a todos – sofrendo algum tipo de violência em sua infância, por mais que lhe tenha sido traumática, parece mais tentado em repassar essa violência do que em refreá-la.


Uma criança que sofreu espancamento, que presenciou o horror de ver sua mãe sendo espancada, quando adulto, aquilo tende mais a se tornar um exemplo - tradicionalmente seguido – do que algo e ser extirpado de sua conduta. O homem (o macho) em seu lado mais vil, mais animal e perverso não mede esforços em impor a mais cruel demonstração de força e maldade contra seus próprios familiares – mulher e filhos. Domina e se impõe na base do terror e da superioridade física. E o menino quando adulto esquecendo a violência vivida, ou na condição de “desforra”, ou ainda, resolvendo o problema como todo “homem” tem que agir, fará como seu pai sempre fez.

Ainda bem que hoje, depois de muita luta, muita denúncia contra o agressor e contra o Estado cúmplice pela omissão, as coisas têm mudado. A violência doméstica está longe do fim, mas de uma ou duas décadas pra cá, a sociedade tem mudado positivamente. Políticas públicas como a criação da Delegacia da Mulher, leis, matérias jornalísticas, têm feito com que as mulheres denunciem e não se sujeitem a esse tipo de tratamento por seus parceiros. A mulher parece ter uma participação muito importante exatamente aí: quanto mais aguenta calada, mais está condenada a viver um inferno dentro de casa, e quanto mais reage, mesmo que passe a vergonha de ter sua situação exposta pela vizinhança com polícia na porta de sua casa, etc, o fato de procurar a lei, registrar o boletim de ocorrência e principalmente romper o relacionamento, inibe esse tipo de expediente do homem.

A “humanização do conflito”, a convivência e a separação sem violência física, parece tênue mas uma mudança que deve ir aumentando seu terreno dentro da sociedade. Se antigamente praticamente em todas as famílias o espancamento era comum, hoje, pelo menos em alguns setores, principalmente onde as mulheres são mais independentes e esclarecidas, se sujeitam menos a esse tipo de parceiro, com exceçoes, claro.

Se a sociedade está mudando neste quesito, é por que houve uma mudança tanto da mulher, que cada vez mais deixa de ser mera dona-de-casa, como do homem que em caso de cometer um excesso perante um membro de sua família, sofre um peso na consciência cada vez maior, sendo contido pelo remorso e o arrependimento. As campanhas públicas, as discussões nos meios de comunicação, ajudam a criar um tabu sobre aquele que age de maneira agressiva, cada vez mais uma agressão é um escândalo, e isso é positivo.

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