terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Líder do Hamas convida presidente americano.


Por mais inusitado que possa parecer, o membro da cúpula política do Hamas em Gaza, Mussa Abu Marzouk, em artigo publicado no jornal americano Los Angeles Times, e transcrito no Estadão de domingo, 11 de janeiro, diz: “Nenhum líder americano jamais visitou algum campo de refugiados palestinos, um fato espantoso considerando-se o papel central que os EUA têm ocupado na narrativa de nosso povo. Na observância da tradição de hospitalidade árabe, e antecipando o dia em que um presidente americano cumprirá a promessa de mudança, refazemos o convite e colocamos a chaleira para esquentar.”

O artigo não é nenhum artefato explosivo, nem nenhuma manifestação de ódio irracional, intransigente,como a imagem que o grupo parece exalar de sua prática radical.
Sucinto e incisivo, indo direto ao ponto nos principais assuntos referentes aos árabes e judeus, como em relação aos “apelos para nosso movimento 'reconhecer o direito à existência de Israel' soam vazios diante dos massacres e alegações de Israel de que está agindo em 'defesa própria' ao bombardear civis. Por amarga experiência, quando, ouvimos pedidos pelo 'reconhecimento' como precondição para o diálogo, o que ouvimos é um apelo pela complacência com os crimes contra nós.”

Neste artigo “Opressão a Gaza já violava trégua”, o porta-voz da facção, defende que quem violou primeiro o cessar-fogo foi Israel num ataque aéreo “preventivo”em 4 de novembro, muito antes de 27 de dezembro, data em que houve o primeiro ataque ao Estado judeu atribuído ao Hamas. Sobre o conflito, alega: “Na verdade, a incapacidade de Israel de fazer a trégua funcionar demonstra que ele não permitirá um futuro construído com base na autodeterminação política dos palestinos. A trégua fracassou porque Israel não abrirá as fronteiras de Gaza, porque Israel seria antes um carcereiro que um vizinho e sua liderança intransigente monopoliza nosso destino.”

A “autodeterminação”, parece tão justa e legítima a ser reivindicada e até exigida, do mesmo modo que soa como infâmia a hipótese de reconhecê-la como direito do outro. O Hamas é o que se poderia chamar de “jihadista” (de jihad, ou guerra santa), ou seja, luta pelo extermínio do Estado de Israel ao mesmo tempo que reivindica (de Israel) o reconhecimento à sua autoderminação.

Segue referindo-se aos EUA e as expectativas sobre seu novo presidente: “Os palestinos veem com alívio o fim da era Bush. Mas impera o ceticismo de que a justiça chegará de um novo presidente que permaneceu num silêncio nefasto ante o massacre israelense. Com centenas de mortos e milhares de feridos, todos vítimas da generosidade dos contribuintes americanos, os palestinos se perguntam como Barack Obama reagirá. Eles pedem um novo paradigma de responsabilidade e respeito, porque quando veem um F16 (caça israelense)com a Estrela de Davi, veem os EUA.”

Termina o artigo com a frase insólita que abre este texto em que no caso de um líder americano resolver baixar por lá, receberá a tradicional “hospitalidade árabe”.

Depois do convite feito, resta esperarmos até quando um líder americano resolva dar o ar de sua graça a uma zona de refugiados palestinos e aceitar tão educadamente uma bebida das mãos de um árabe radical.

Diga-se de passagem, a faixa de Gaza é composta em sua quase totalidade, de árabes sunitas, a mesma etnia do iraquiano Saddan Hussein, do partido Baath, derrubado pela invasão americana de 2003.

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