quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Beligerância

Entrou em casa – Oi, amor – cara fechada, a mulher passava pano pelo fogão, lavava-o na pia. Não lhe deu atenção.

_ Quifoi, tá nervosa por quê?

_ Ainda pergunta?

_ ???

_ Tu ficaí bolinando essa sirigaita!...

_Q- quem, eu?

_Não. Eu, seu safado fiduma égua!

_Ma, ôxi. Tu tá bem? Deu di bebê agora?

Põe as mãos na cintura – Inda tem a cara di pau de dizê que num feis nada.

_ Ma fizuquê?

Lasca um tapa que no reflexo da esquiva estala no braço de Gerino que a olha assustado.

_Nada! Num feis nada, seu cachorro safado! Tu num é hómi não, safado?! Cachorro! Assumi que tu tava sisfregando mais aquela requengela, seu cachorro safado, EU ví!- com o dedo apontando para os olhos - Eu ví tu lá. Num adianta cê negá queu ví tudinho. Ninguém mi contô...

_Cê tá inganadamor.

_Amor?! Ma como tu é caradipau! Cê num tem vergonha?! Tava lá inroscado qüaquela cadela, agora vem mi chamá di amor? Tu some da minha frente sinão eu vô dá na tua cara, seu abusado!

_Só uma coisinha...

Toma vergonha nessa cara... Faisseguinte: tu cata tuas coisa issôme! Ma some pra nunca mais vê tua cara na minha frente. Vai lá ca quela “coisinha”ti qué e ocê qué ela. Ceis dois simereci!

_Mazamor...deixeu isplicá...

_SOMI!!! - Solta um grito – Isplicá? Tu qué isplicá?! Intão tu cata tuas coisa i essa cara de safado sem vergonha i vai lá praquela sirigaita isplicá uquê cê quisé, caqui tu num vai isplicá nada. _ levantando a mão com punho cerrado – tô é cum vontadi displicá minha mão nessa tua cara de cachorro! Cata tuas coisa issômi!

_Dexeu só falá uma coisinha – acanhado, com o dedo indicador levantado e fisionomia triste como quem pede clemência.

_Já! Ô tu cata tuas coisa, ô eu vô jogá tudo na rua. Cequiscolhi!

_Só uma coisinha – insiste.

_Essa “coisinha”, tu fala praquela quenga lá que tu tavinganchado. Quem vai falá uma “coisinha”, sô eu. Prestençao! Eu querevê tu vivendo caquela galinha pra vê tua cabeça todinfeitada. Nué disso qui cêis gosta?! Muié direita hómi nenhum dá valor. Agora essas sirigaita ceis fica aí tudu achando o máximo. Vai lá! Vai lá vivê cum ela. Vai vê si ela ti qué. Tu vai sê o maió corno da paróquia! Quanela saí dano por aí cê vai atrás dela: “ai amor, ai amorzinho” Aí inquantela infeita tua cabeça, tu fica falando uma “coisinha” pra ela. Si tu tem vocação pra chifrudu, tu fica lá cum ela. Num é o que tu gosta? É o que tu merece. Ela passa o dia sisfreganu em tudo qui é macho, aí quandela chegá incasa, tu vai lá e lambiela. Comi o resto dos ôtro. Você! Porqueu num tenho vocação pra ficá cum sobra, inda mais dessas cadela de rua.

Murcho, cabeça baixa, com os olhos mareados..._Disculpamor, eu sei qui tô errado, mas mi dá uma chance só. Eu faço o qui tu quisé..

_Ah cachorro, olha tua cara. Imagina si teu pai ti vê chorano quessa cara di froxo. Era um hómi barbado apanhando quinem criança, i eu apoianu! Baxucacete, fais desse cabra um hómi. In todesse tempo queu vevi mais tu, num sabia que tu era tão banana. Agora tu qué uma chance?!...Tu tem a vidintera pra pensá nu que tu feis e aprendê respeitá tua mulhé. Não eu! Vai cantá ni otra freguesia. Cumigo não, cabô!

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