domingo, 12 de julho de 2009

A lógica da crise.


O secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, encaminhou ontem ao Congresso, mais um plano de regulação e controle sobre papéis que circulam dentro e fora da Bolsa.

Agora não adianta ficar criando muita regra e burocracia estatal para controlar a economia, o que importa mesmo é saber se funcionarão e quanto tempo essas regras todas irão durar.

Após a crise de 29, lá no começo do século passado, o estado passou a controlar a economia exatamente por causa do estrago que o Laissez-faire, o livre mercado acabou acarretando. O país literalmente quebrou, e o mundo foi junto.

Por todo o século a regulamentação, o controle do Estado na economia foi cada vez mais, mais mal visto, e por causa disso foi sendo posto de lado. Na década de oitenta, aí virou festa, Ronald Reagan nos EUA e Margareth Thatcher, do outro lado do Atlântico, na Inglaterra, implementaram em seus países e espalharam no mundo a nova onda: o “neo liberalismo” – como acabou sendo chamado – que tinha como principal mandamento, a desregulamentação, a liberdade plena dos negócios.

Foi privatização pra todo lado, o fim de prestar contas aos órgãos públicos, etc., a palavra de ordem era: Estado mínimo! O Estado tinha que se ater ao mínimo possível, deixando que a economia se fisesse por sí mesma. Ninguém nem se lembrava mais de 29, aquilo era simplesmente um capítulo triste e ultrapassado da história.

Pois bem, o Estado novamente estava mais ou menos nas mesmas condições que na década de vinte, de mãos amarradas e olhos vendados. Como nos Estados Unidos o liberalismo é cultural, até os membros do governo concordam que o Estado é uma entidade perniciosa e perigosa, devendo ser o menor possível.

Foi aí que a coisa se armou novamente.

Instituições financeiras ligadas ao setor imobiliário que estavam no vermelho, como tinham capital aberto, ou seja, tinham ações em bolsa, se divulgassem balanços mostrando que estavam mal de saúde, no vermelho, suas ações se desvalorizariam piorando ainda mais a situação. Começaram apresentar balanços fraudulentos, não no vermelho, mas no azul, ficando na expectativa que lá pra frente as coisas se resolveriam. O pior é que não foi uma nem duas, foram várias que se utilizaram desse artifício, e pior ainda, foram as maiores. E pra completar, não havia nenhum orgão, nenhuma instância a prestar contas, o “mercado”se acerta, esta é a regra, e as coisas não se resolveram. Os papéis que partiram dessas empresas, contaminaram todo o país e toda a Europa.

Quando de repente uma (das grandes) abriu o bico, o castelo de cartas começou a vir abaixo. É esta crise que estamos vivendo e que os Estados Unidos e Europa estão com os lombos doloridos ainda, a crise por lá está mais forte que por aqui, que já deu sinais de que passou.

Agora eles querem regular tudo, criar instâncias, secretarias, comissões, formas de acompanhamentos e jurisdição de controle e fiscalização de papéis, agências, instituições, etc. O problema não é o agora, o problema é daqui a vinte, trinta, cinquenta anos. As próximas gerações que não sentiram o lombo ardendo, serão os primeiros a pedir (exigir) a desregulamentação, o fim da burocracia opressora e vil do Estado. A crise de hoje não fará nenhum sentido pra eles. Estado é coisa de comunista.

Como será uma crise global daqui a cinquenta, setenta ou oitenta anos, cometendo a mesma burrice de quase um século e meio atrás?

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