sábado, 24 de outubro de 2009

Como seria sem o fisiologismo?

Costuma-se reclamar que os parlamentares estão interessados apenas em dinheiro e poder, mas, cutucando a onça, não é melhor assim? O sistema político nacional falsamente mais democrático deixa o eleitor botar forças antagônicas no poder na mesma legislatura (pode-se votar em “A” pra presidente e no “anti-A” pro legislativo, e vice-versa). O excesso de partidos que dificulta conseguir maioria, o executivo eleito tem que “dar um jeito” de conseguir maioria pra tocar seus projetos. No Brasil, a composição ministerial ou de secretários, está muito longe de ser por méritos. São cargos utilizados para “compor a maioria” no legislativo. A que presta uma reforma ministerial, ou de secretariado senão comprar essa maioria?


Como seria se uma vez eleito sem maioria tendo um legislativo composto por – quase – todos ideológicos, defensores de um ponto de vista e dos interesses de sua classe. Como o governante governaria? Governaria? Uma vez apresentado um projeto, se quem é contra, é contra por que não concorda, por convicção, e quem é a favor o é por que o acha positivo,também por consciência, como se atingiria o ponto de inflexão, como se alcançaria a maioria? Ou um governo escolhido pelo povo, sem maioria, seria barrado pelo – também eleito – legislativo? Por isso Lula tem um pouco de razão quando disse que se Cristo governasse aqui, teria que fazer aliança com Judas.

Por isso é uma falsa impressão dizer que o sistema eleitoral brasileiro é mais democrático pelo fato do eleitor poder escolher inconsequentemente seus preferidos sem nenhum vínculo entre poderes. Esse sistema “democrático” na vontade, quando chega na ponta vira “fisiológico” na prática. As regras forçam este estado de coisas.

Este “democratismo” permite que se coma a sobremesa antes da refeição, e a consequência é uma falta de apetite, que trás uma subalimentação, uma subnutrição. Temos um sistema doente que dá a faca e o queijo na mão para os que se vendem, como bem assume o PMDB. É o fiel da balança, com uma grande bancada nas duas casas e cobra caro por isso. O governante – o país – paga por isso. É o que vivemos hoje politicamente, as consequências de uma distorção política bem intencionada e mal ajambrada.

Uma reforma política precisaria de algum modo vincular o voto do executivo ao do legislativo, mais ou menos como no parlamentarismo, que governa a maior bancada eleita. Isso não é cerceamento, é dar o passo que a perna aguenta. Mais que isso, é intitucionalizar a “república do deita-e-rola” que vivemos hoje.

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