Turistas que foram ao Egito atrás de história mumificada deveriam ficar para ver a história viva.
Meios de comunicação mostram o movimento migratório de turistas do planeta inteiro, que excursionam pelo Egito, em direção ao aeroporto tentando se picar de lá. Devido aos tumultos nas ruas e o fechamento do acesso às pirâmides e ao museu do Cairo - as múmias estão de folga - não há o que fazer por lá, comentam jornalistas e embaixadas, então o mais seguro é tirar o escalpo da reta.
Quem vai ao Egito está interessado em história, só que uma história silenciosa, embalsamada, mumificada, de rochas desgastadas, que se manifesta por placas e cartazes com pequenos textos - que se o turista não conhecer pelo menos o inglês, não vai entender muita coisa.
Pô, tá certo que ninguém vai conseguir ver múmia, mas é a grande chance indisperdiçável de ver a história viva, sangue quente bombando nas ruas. O que o mundo está acompanhando pela televisão ou internet, uma minoria tem o privilégio de estar na boca do vulcão, na pororoca entre deus e o diabo.
A história pulsante, barulhenta, em que a presença é arriscada e estimulante acontecendo perto do nariz, com todos os sentidos, sentimentos e emoções: gritos, poeira, fumaça, correria, enfrentamento, a nuvem de gás lacrimogêneo que sufoca, ataca os olhos, corpos caídos, pedradas...
Estar no furor dos acontecimentos é uma coisa que não tem preço, não volta atrás pra quem não viu poder ver. O que passou já era. Ficamos reféns de imagens e textos dos meios de comunicação que lavam e passam as informações conforme suas conveniências, acadêmicos e comentaristas conforme suas ideologias.
José Bonifácio, que passou à história como "Patriarca da Independência",foi um brasileiro privilegiado. Viu a revolução francesa, estava lá na hora do pau comendo. Participou da resistência portuguesa à ocupação francesa de Napoleão, e foi influente no rompimento do Brasil com Portugal. Estava com o nariz enfiado em grandes momentos históricos de sua época.
Hoje, pessoas que estão no olho do furacão, vendo uma movimento popular que assola diversos países árabes prometendo mudar todo o mapa político mundial, querem sair de lá. Quem está alí, na hora certa, no lugar certo, sai correndo de medo. Ah, assim não dá!
Daqui a algumas décadas, talvez nem tanto, esses eventos estarão nos livros de história que a molecada vai ouvir falar. Já pensou poder falar que estava lá, presenciou os fatos in loco.
Não é pra sair correndo pro aeroporto, é pra ir pras ruas, sentir a força dos movimentos sociais e políticos. Ver e viver os fatos de seu tempo.
As múmias e as pirâmides que viram areia pelo tempo continuarão em seus lugares nos esperando.
Foto chapada: Mubarak, é melhor sair enquando dá. O caldo vai engrossar.